domingo, 1 de julho de 2012

COLUNA


Um urso foi visto


Dia desses, parado no trânsito por um pequeno congestionamento causado pelo caminhão de coleta de lixo, aproveitei para reparar, nas lojas daquela rua que passo quase que mecanicamente, o sorriso de alguns, o semblante fechado de outros e as opções que cada um faz para seu dia.
Até que, ao olhar para o caminhão, motivo da lentidão, observei que trazia amarrado na porta da caçamba de lixo um ursinho de pelúcia, meio bege meio sujo, que segurava uma almofada vermelha com os dizeres “te amo”, em rebuscadas letras brancas, e então passei a imaginar o porque daquela “aposentadoria”.
Seria o fim de um namoro? O fim de um caso? Boicote de um terceiro? Arrependimento? Qual foi a decisão que levou aquela representação de amor ao lixo? Estaria mesmo amarrado? Enforcado, como se assim estrangulasse um sentimento? Estaria agarrado à porta estampando um recado? Seria por ciúme que foi parar ali? Traição? A falta de um aceite? A recusa de um namoro? Uma decisão impensada? Um não?
Quem sabe não foi nada disso, e sim um fiscal mais rigoroso do INMETRO, no cumprimento de suas obrigações apontou irregularidades insanáveis e decretou o fim do brinquedo, ainda sem a carga emocional e o amor que lhe dariam sentido e justificariam sua fabricação.
E assim o foi, liberado o trânsito, seguiu ali o urso, amarradoà porta e em meio ao lixo, segurando uma frase e mostrando ao mundo que um amor pode ter acabado, e quem sabe outro estaria prestes a ter início.
Para registro, dia desses, foi visto um urso – ou um amor – seguindo pelo caminhão de lixo.